quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quarta-feira de cinzas

Não sei nem por onde começar. Juro. Estou quebrando a cabeça para entender o que deu errado para os times brasileiros ontem na Libertadores, para tentar escolher o que “mais deu errado”. Mas não vai ter jeito de escolher, por isso vou fazer um pouco diferente hoje. Vamos falar sobre “o que deu errado” para Inter, Grêmio, Fluminense e Cruzeiro.

Antes dos jogos começarem eu tinha algumas certezas. A primeira delas era que o Cruzeiro ia ganhar de goleada do Once Caldas. A segunda era que o Inter ia se segurar bem e tinha grandes chances de vencer. E eu também tinha alguns palpites. Esperava um jogo de tirar o fôlego do Flu e esperava também um jogo apático do Grêmio. Bom, fui completamente surpreendida (assim como todos, né?) e presenciei um dia muito estranho para o futebol brasileiro. A última vez que Brasil não avançou nessa fase com pelo menos dois times foi em 94. Desde que eu acompanho a Libertadores o Brasil sempre vai muito bem, obrigada.

Mas, vamos então falar sobre essa noite atípica. Muita coisa deu errado.

O que deu errado?

Internacional

Atual campeão. Jogo em casa contra o Peñarol. Lá no Uruguai 1 a 1. Parecia um jogo fácil. O Inter abriu o placar logo no início, mas perdeu chances preciosas de ampliar. Aí que morou o problema. A postura parecia de “campeão antecipado”, o que é muito perigoso. Na volta do intervalo, aos 15 segundos, o Peñarol empatou e logo em seguida virou. O desespero tomou conta da equipe do Inter. Falcão até tentou forçar o ataque com algumas mudanças, mas o Colorado não conseguiu fazer mais nada depois de levar dois gols. Alguns torcedores estão culpando o novo técnico. Mas eu acho que o deu errado para o Inter ontem foi dentro de campo. A equipe entrou parecendo que tinha uma grande vantagem sobre o time uruguaio, o que não era verdade. Uma pena. Uma festa tão bonita em vermelho e branco no Beira-Rio terminou em uma derrota amarga e deixou o torcedor com a sensação de que o time poderia ter lutado mais.

Inter perdeu em casa para equipe do Peñarol - Foto: site Terra

Grêmio

Esse jogo eu não diria que foi uma surpresa. Surpresa mesmo foi a primeira partida, quando o Grêmio perdeu por 2 a 1 no Olímpico. Depois disso eu já esperava que o time não avançaria, pois a equipe do Universidad Católica quando joga em Santiago é complicadinha. Principalmente com o time brasileiro com sete desfalques. Mas o início do jogo foi quente. O Grêmio foi para cima e começou pressionando. O primeiro tempo foi todo do Tricolor Gaúcho. Douglas foi um guerreiro, tentou marcar seu gol, mas a bola não entrou. No segundo tempo o Grêmio voltou murcho. Com uma postura totalmente diferente, deixou o Universidad começar a dominar o jogo. Renato Gaúcho foi ousado. Trocou Rafael Marques, que é zagueiro e estava com dores musculares, pelo atacante Leandro. Mas, como o esquema passou a ser um 4-3-3 improvisado, a equipe se abriu e no fim do jogo tomou um gol que apenas confirmou a eliminação. Essa eliminação começou na derrota da semana passada e ontem foi apenas consolidada.

Jogadores gremistas lamentam eliminação - Foto: EFE

Fluminense

Todos esperávamos um jogo difícil, principalmente por ser no Defensores del Chaco, mas entrando em campo tendo vencido no Rio por 3 a 1, o Fluminense literalmente deixou escapar a classificação. Não vi o time de guerreiros. Durante os 90 minutos em que o Fluminense esteve em campo contra o Libertad, não fez jus àquele das últimas partidas da Libertadores. Na verdade, no primeiro tempo o Tricolor Carioca até conseguiu segurar bem o adversário, não deu muito espaço, mas ao mesmo tempo não fez uma grande exibição. No segundo tempo aconteceu o pior, a equipe paraguaia fez incríveis 3 a 0 e se classificou para as quartas da competição. Rafael Moura não foi o mesmo de sempre e não estava lutando como de costume. Conca muito apagado, Berna sem muita segurança. Fred, para variar, mais falou do que fez. Arrumou confusão, se machucou. Bola que é bom, não vi jogar. E o Flu (mais uma vez) decepciona na Libertadores.

Nem os dois maiores ídolos conseguiram evitar vexame - Foto: Reuters

Cruzeiro

Essa partida foi a que mais me surpreendeu. Eu tinha certeza que o time celeste iria vencer; a melhor campanha da Libertadores, goleadas de encher os olhos. Eu digo isso porque tenho acompanhado de perto a equipe do Cruzeiro e vejo como o time está entrosado, como estão com vontade de vencer, como não estão priorizando nenhuma competição e valorizando tanto o Mineiro quanto a Libertadores. Estavam, né? Porque o jogo de ontem foi um verdadeiro vexame. A começar pelo Roger que fez duas faltas infantis e foi expulso logo no primeiro tempo. Depois disso a equipe sentiu e não se encontrou. O ataque não funcionou, a defesa até tentou, mas em alguns momentos se enrolaram. O ex-atleticano Rentería deitou e rolou (e os atleticanos adoraram, diga-se de passagem). Para mim o melhor em campo foi Gilberto, que até teve um gol anulado no fim do segundo tempo (mesmo assim o jogador nem foi tão bem - para vocês entenderem o quanto o Cruzeiro jogou mal). Um 2 a 0 vergonhoso dentro da Arena do Jacaré. O cruzeirense não vai esquecer isso tão cedo. Nem o mais pessimista esperava esse resultado.

Equipe decepcionou os torcedores, que esperavam vitória tranquila - Foto: AP

O balanço disso tudo é que essa foi uma noite para os brasileiros esquecerem. Na verdade, os torcedores das equipes rivais gostam de tirar sarro de quem foi eliminado. Mas não podemos esquecer que chegar até essa fase da Libertadores é uma tarefa difícil e para poucos, onde times grandes e consagrados como o Corinthians ficam para trás. Agora nos resta esperar se o Santos vai aguentar a pressão de ser o único brasileiro na competição e seguir bem até a final.

4 comentários:

  1. O peso agora está sim nas costas do Santos, mas acho que os meninos da Vila vão conseguir ir longe sim. Depois de tudo, os mais experientes do time vão passar tranquilidade para os mais jovens, já que o próximo adversário, o Once Caldas, não é lá essas coisas, por ter eliminado o Cruzeiro, e se jogarem com os pés no chão, passam pras semis, e me escute, talvez até com tranquilidade!

    Abraço
    www.net-esportes.blogspot.com

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  2. Vou tentar resumir: ~ficou comprovado que não basta camisa, vantagem e elenco. Na Libertadores é preciso jogar bola também, de vez em quando. Só de vez em quando. Como na quarta-feira.
    O Cruzeiro foi decepção, o Flu encenação, o Grêmio constatação e o Inter perdição. O Santos de Muricy? Cagão, no sentido de covarde.

    Saudações!!!

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  3. Samira, vc foi feliz na sua colocação: "Não sei nem por onde começar" Foi justamente esse o sentimento dos brasileiros que deixaram de lado o bairrismo futebolistico e viveram a emoção do futebol brasileiro na Libertadores. Aliás, na minha opinião, estamos tendo uma overdose de autoestima, auto-confiança...o mundo todo quer ganhar do Brasil no futebol, como nem todos podem jogar contra a seleção brasileira ganhar de um time brasileiro já realiza o sonho. Daí nosso pesadelo quando enfrentamos, principalmente, os sul-americanos.
    Desculpe-me pela delonga, me empolguei, rsrsrs!
    Forte abraço
    Jean Francisco
    esportday.blogspot.com

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  4. Que belo post, mais um aliás. Parabéns, Samira. Como você citou, é até difícil explicar. Mas na Libertadores não basta entrar em campo. Tem que incorporar o espírito da competição, que é muito acirrada. Os brasileiros não incorporaram este espírito, e acabaram sendo castigados.

    Abraços!

    www.blogfutebolnaveia.blogspot.com

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