quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

#Fechadoscontraopreconceito

Foto: Globoesporte.com

Não dá para negar que o futebol é um esporte democrático. Mas também não dá para negar que é o esporte mais desigual. Democrático porque dá para jogar em qualquer lugar, sem uniforme, até mesmo improvisando uma bola. Desigual porque de um lado há uma massa de fanáticos induzidos que se preciso for dão a vida pelo clube do coração (já falamos isso no post “Sobre fanatismo e chuteiras”, lembram?) e do outro, engravatados, cartolas, patrocinadores e jogadores que só enriquecem com a “paixão nacional”. Tem alguma coisa errada nessa conta.

Dentro dessa massa fanática há jovens, velhos, pobres, ricos, mulheres, homens, heterossexuais, homossexuais, gordos, magros, negros e brancos. No momento em que a bola rola todas essas pessoas tão diferentes entre si se misturam e compartilham um sentimento. No dia a dia há discriminação por classe, há misoginia, há homofobia, há todos os tipos de preconceito imagináveis. Mas quando o juiz apita o início do jogo o rico abraça o pobre, o branco abraça o preto e até as mulheres são bem recebidas nos estádios.

Mas o preconceito continua lá. Ele não é apagado e aparece claramente nas provocações entre as torcidas, por exemplo. Isso já aconteceu no vôlei, com o jogador Michael do Cruzeiro, numa partida contra o Vôlei Futuro. Ele foi hostilizado pela torcida adversária pelo simples fato de ser homossexual. E na última quarta-feira um ato grotesco de preconceito aconteceu novamente. Dessa vez nos gramados, de novo com o Cruzeiro. Na partida entre Real Garcilaso e Cruzeiro no Peru, o volante Tinga foi humilhado pelos torcedores rivais. Toda vez que ele tocava na bola, os torcedores imitavam macacos.

Como a maioria dos jogadores de futebol no Brasil, Tinga é negro. Veio de uma família muito humilde de Porto Alegre. Foi criado pela mãe faxineira junto com seus quatro irmãos. História que se mistura com a da maioria dos brasileiros. Quando Tinga se tornou jogador profissional, a vida começou a ser mais suave com essa família. Mas ele nunca vai deixar de ser preto. Ele nunca vai poder apagar o passado sofrido. 

A questão negra no Brasil é muito complicada. Os negros são a maioria no nosso país e são os que mais sofrem. Os negros são 70% das vítimas de assassinatos no Brasil. A remuneração dos negros corresponde a 63,9% da remuneração dos brancos. Dos negros no mercado de trabalho, apenas 11,8% tem ensino superior. Quem tem a pele escura ocupa as profissões mais precarizadas e isso já vem desde a formação cultural do Brasil. Por todos esses dados (para quem gosta mais de números do que de fatos) dá pra ver quem está em desvantagem no nosso país. Não é só o racismo que tem que deixar de existir. É a desigualdade. É esse abismo absurdo que acontece entre classes e cores.

Nessas horas é que dá para explicar para os desavisados que as minorias não querem benefícios. Querem igualdade. O Tinga quer jogar bola sem ninguém ficar falando sobre a cor da sua pele. O gay quer escolher com quem ele quer se relacionar sem ninguém ficar se intrometendo. A mulher quer ir trabalhar sem ser assediada no metrô.

 Há muita desigualdade, é só olhar ao redor. Enquanto não lutarmos contra os preconceitos a vida será cada vez mais dura, cruel e desigual. Estamos #fechadoscomotinga. Mas também deveríamos estar #fechadoscontraoracismo, #fechadoscontraahomofobia, #fechadoscontraamisoginia e por aí vai. Pois como o Tinga disse lindamente: “Eu trocaria todos os meus títulos por uma igualdade em todas as áreas, em todas as classes”.