sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A nada rentável supremacia mineira

Atlético/MG campeão da Libertadores. Cruzeiro campeão do Brasileirão. Tem alguma coisa errada aí, não? Como deixaram dois times mineiros que não têm a mídia e a receita de outros grandes dominarem o cenário futebolístico do ano de 2013? Saiu totalmente dos planos da CBF e da Globo, que como sempre planejavam um ano com vencedores do eixo Rio-São Paulo.

                                                                   Charge: Dum Ilustrador

O que deu errado?

Vamos tentar entender o que foi esse ano para o futebol e todo o dinheiro envolvido nisso.

Desde a temporada de 2012 os clubes passaram a negociar individualmente suas cotas de transmissão na TV (leia-se – quanto a Globo paga para cada time pela exibição de seus jogos). O valor é estabelecido de acordo com os critérios de cada time; o que se acha bonzão pede mais, os mais “humildes” pedem menos e a Globo analisa se vale ou não. No fim das contas, todo ano Corinthians e Flamengo estão na lista dos mais bem pagos, com valores que são quase o dobro de times de expressão, como Botafogo, Fluminense e os próprios Cruzeiro e Atlético/MG. Essas cifras das duas maiores torcidas do país giram em torno de 100 a 150 milhões e o direito a transmitir mais e mais jogos de Corinthians e Flamengo.

Veja o gráfico com as cotas de TV e publicidade - Fonte: Estadão

Corinthians e Flamengo são os clubes com as maiores torcidas do Brasil, têm torcedores de Norte a Sul do país. Por que será? Será que é porque são os times que mais têm jogos transmitidos pela Globo? Será que é porque a Globo é a emissora que domina os lares das famílias? Tudo isso cria um ciclo, já que quanto mais jogos desses clubes a Globo transmite, mais renda eles têm, mais investimento conseguem fazer e aparecem cada vez mais. O bom futebol é uma outra história. Em 2012 o Corinthians até fez jus ao investimento, mas em 2013 tanto o time paulista quanto o carioca estão decepcionando patrocinadores e torcedores, com atuações medianas e sem nenhuma expressão.

O meia Alex, sem papas na língua, disse em entrevista recente que "quem cuida do futebol brasileiro é a Globo (...) A CBF é apenas uma sala de reunião”. E é isso mesmo que acontece na realidade. O calendário esportivo é marcado de acordo com a novela da Globo. Os jogos de quarta-feira começam no absurdo horário de 21h50 e terminam por volta da meia noite, quando já não tem mais transporte público e o torcedor (que antes de ser torcedor é um proletário) tem que se virar para chegar em casa e ainda acordar cedo no dia seguinte.

Mas por que estamos falando sobre isso?


O ano de 2013 foi uma grande decepção para a Globo e para a CBF. Os times mineiros tiveram um ano irretocável, com atuações espetaculares nos campeonatos que venceram. O Galo na Libertadores fez jogos emocionantes, reverteu resultados improváveis e brigou até o último segundo pelo título. Já o Cruzeiro fez um campeonato impecável de ponta a ponta, com toda a lucidez de um campeão, a competência de um ataque preciso e um time bem montado.

Minas Gerais está em festa. Os times do estado são os melhores do Brasil, sem dúvida. Em elenco, em vontade, em competência. Mas o que vimos quando o Cruzeiro foi campeão do Brasileiro? Uma matéria de 2 minutos no Fantástico? Notinhas nos jornais da semana? Estou esperando como vai ser no Mundial com o Atlético. Com certeza nada comparado ao que foi com o Corinthians no ano passado, em que a Globo literalmente parou, seja para transmitir os jogos ou fazer uma cobertura exaustiva, com reportagens a todo minuto e em todos os jornais.

É uma balança que está pendendo para um lado só. E não venham falar que é porque “Corinthians e Flamengo são os maiores times do país”. Em números, é claro que são, mas isso foi construído. E foi construído por uma emissora que gira no eixo Rio-SP não só no futebol, mas em todos os outros aspectos, ignorando a pluralidade do Brasil e as diferentes e diversas regiões do nosso país. Enquanto isso, os times mineiros estão reencontrando o caminho dos títulos nacionais e estão na briga para conquistar o lugar que merecem, junto com “os grandes”.