Atlético/MG campeão da Libertadores. Cruzeiro campeão do Brasileirão.
Tem alguma coisa errada aí, não? Como deixaram dois times mineiros que não têm
a mídia e a receita de outros grandes dominarem o cenário futebolístico do ano
de 2013? Saiu totalmente dos planos da CBF e da Globo, que como sempre
planejavam um ano com vencedores do eixo Rio-São Paulo.
O que deu errado?
Vamos tentar entender o que foi esse ano para o futebol e
todo o dinheiro envolvido nisso.
Desde a temporada de 2012 os clubes passaram a negociar
individualmente suas cotas de transmissão na TV (leia-se – quanto a Globo paga para
cada time pela exibição de seus jogos). O valor é estabelecido de acordo com os
critérios de cada time; o que se acha bonzão pede mais, os mais “humildes”
pedem menos e a Globo analisa se vale ou não. No fim das contas, todo ano Corinthians
e Flamengo estão na lista dos mais bem pagos, com valores que são quase o dobro
de times de expressão, como Botafogo, Fluminense e os próprios Cruzeiro e
Atlético/MG. Essas cifras das duas maiores torcidas do país giram em torno de
100 a 150 milhões e o direito a transmitir mais e mais jogos de Corinthians e
Flamengo.
Corinthians e Flamengo são os clubes com as maiores torcidas do Brasil, têm
torcedores de Norte a Sul do país. Por que será? Será que é porque são os times
que mais têm jogos transmitidos pela Globo? Será que é porque a Globo é a
emissora que domina os lares das famílias? Tudo isso cria um ciclo, já que
quanto mais jogos desses clubes a Globo transmite, mais renda eles têm, mais
investimento conseguem fazer e aparecem cada vez mais. O bom futebol é uma
outra história. Em 2012 o Corinthians até fez jus ao investimento, mas em 2013
tanto o time paulista quanto o carioca estão decepcionando patrocinadores e
torcedores, com atuações medianas e sem nenhuma expressão.
O meia Alex, sem papas na língua, disse em entrevista
recente que "quem cuida do futebol brasileiro é a Globo (...) A CBF é
apenas uma sala de reunião”. E é isso mesmo que acontece na realidade. O
calendário esportivo é marcado de acordo com a novela da Globo. Os jogos de
quarta-feira começam no absurdo horário de 21h50 e terminam por volta da meia
noite, quando já não tem mais transporte público e o torcedor (que antes de ser
torcedor é um proletário) tem que se virar para chegar em casa e ainda acordar
cedo no dia seguinte.
Mas por que estamos
falando sobre isso?
O ano de 2013 foi uma
grande decepção para a Globo e para a CBF. Os times mineiros tiveram um ano
irretocável, com atuações espetaculares nos campeonatos que venceram. O Galo na
Libertadores fez jogos emocionantes, reverteu resultados improváveis e brigou
até o último segundo pelo título. Já o Cruzeiro fez um campeonato impecável de
ponta a ponta, com toda a lucidez de um campeão, a competência de um ataque
preciso e um time bem montado.
Minas Gerais está em festa. Os times do estado são os
melhores do Brasil, sem dúvida. Em elenco, em vontade, em competência. Mas o
que vimos quando o Cruzeiro foi campeão do Brasileiro? Uma matéria de 2 minutos
no Fantástico? Notinhas nos jornais da semana? Estou esperando como vai ser no
Mundial com o Atlético. Com certeza nada comparado ao que foi com o Corinthians no ano passado,
em que a Globo literalmente parou, seja para transmitir os jogos ou fazer uma
cobertura exaustiva, com reportagens a todo minuto e em todos os jornais.